O movimento Fora Collor que resultou na deposição do presidente Collor de Mello em 1992 foi um marco na História do Brasil. Converteu-se no primeiro movimento majoritariamente juvenil e de massa no momento pós-redemocratização no Brasil, depôs o primeiro presidente eleito após o regime militar, em grande parte pela perda de base parlamentar do então mandatário, pela crise econômica aguda com uma recessão prolongada e pela ação dos movimentos sociais que foram também fundamentais para vocalizar a insatisfação com a política econômica, o desemprego e a miséria.
Deve-se salientar que à época havia crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente Collor amplamente documentados, com provas, diferentemente do que ocorreu em 2016, quando houve um golpe de Estado mal travestido de impeachment pelas “pedaladas fiscais”, que nunca foram motivo de questionamento em todos os governos anteriores, desde a ditadura, e que continuaram a ocorrer no governo do golpista Michel Temer em 2016 e 2017 sem qualquer questionamento pelos mesmos órgãos que tanto denunciaram o suposto ilícito das pedaladas da presidente Dilma.
O Fora Collor em 1992 teve repercussões no momento histórico posterior. No Brasil não tivemos o processo de privatizações, estrangeirização da economia e dolarização que ocorreu radicalmente por exemplo na Argentina de Carlos Menem, e isso se deu pela resistência social popular contra o modelo implantado tanto por Collor quanto por Menem e por uma série de
governantes latino americanos que abraçaram o discurso do Neoliberalismo, da abertura de mercado, da destruição dos direitos sociais e das privatizações. O Fora Collor foi um ponto alto dessa resistência, criou espaço para o crescimento do movimento social, consolidou a liderança de Lula que havia disputado e perdido a eleição de 1989 contra Collor e obrigou a Direita no Brasil a abandonar o projeto de ter uma candidatura a presidente oriunda de seus quadros, muito identificados com a ditadura militar e o governo Collor. Essa mesma Direita resolveu apoiar uma candidatura de um partido de centro à época, o PSDB, o que impediu o avanço da Esquerda, inaugurando uma aliança política do centro com a Direita no país, como consequência da repercussão do que foi o fracasso do projeto neoliberal explícito de Collor de Mello.
Esse site tem o objetivo de reunir documentos, reportagens, fotos, vídeos, depoimentos e artigos científicos para disponibilizar para o público em geral e assim contribuir para a preservação da Memória e da História recente do Brasil. Também será um canal para receber informações, documentos e registros desse momento do Fora Collor de qualquer pessoa ou instituição que tenham interesse em compartilhá-las.
O breve século XX e a longa década de 1980
O Brasil que surge ao final da Ditadura era bem diferente do Brasil de 1964 antes do Golpe. O país passou de rural para urbano, intensificou sua industrialização, sedimentou uma Indústria Cultural, montou suas redes de comunicação eletrônica. Ao mesmo tempo passou pela Revolução Sexual, pela Liberação da Mulher, pela mudança e contestação de costumes das décadas de 1960 e 1970 e pelo anseio e luta pela liberdade em todas as áreas.
Teremos nossa vez
Não é pedir demais:
Quero justiça
Quero trabalhar em paz
Não é muito o que lhe peço
Eu quero um trabalho honesto
Em vez de escravidão
Deve haver algum lugar
Onde o mais forte não
Consegue escravizar
Quem não tem chance
De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?
O céu já foi azul, mas agora é cinza
O que era verde aqui já não existe mais
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada
De tanto brincar com fogo
Que venha o fogo então
Esse ar deixou minha vista cansada
Nada demais”
Alguém pode ter dúvida sobre com qual posicionamento sócio-político a banda se alinhava? Em Geração Coca-cola, é o ataque ao imperialismo yankee, ao consumismo, à ditadura militar:
A receber o que vocês
Nos empurraram com os enlatados dos Usa, de 9 às 6
Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola”
Só vejo preconceito
E a sua roupa nova
É só uma roupa nova
Você não tem idéias
Pra acompanhar a moda
Tratando as meninas
Como se fossem lixo
Ou então espécie rara
Só a você pertence
Ou então espécie rara
Que você não respeita
Ou então espécie rara
Que é só um objeto
Pra usar e jogar fora
Depois de ter prazer.
Você é tão moderno
Se acha tão moderno
Mas é igual a seus pais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz.
Você com as suas drogas
E as suas teorias
E a sua rebeldia
E a sua solidão
Vive com seus excessos
Mas não tem mais dinheiro
Pra comprar outra fuga
Sair de casa então
Então é outra festa
É outra sexta-feira
Que se dane o futuro
Você tem a vida inteira
Você é tão esperto
Você está tão certo
Mas você nunca dançou
Com ódio de verdade.
Você é tão esperto
Você está tão certo
Que você nunca vai errar
Mas a vida deixa marcas
Tenha cuidado
Se um dia você dançar…”
Ao final, numa música que todos no show do Legião cantaram bem alto, o texto musical faz uma constatação, que vira um desafio:
Nós somos tão modernos
Só não somos sinceros
Nos escondemos mais e mais
É só questão de idade
Passando dessa fase
Tanto fez e tanto faz
Você é tão esperto
Você está tão certo
Que você nunca vai errar
Mas a vida deixa marcas
Tenha cuidado
Se um dia você dançar.